pombo

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sábado, 3 de julho de 2010

CARIDADE DESCONHECIDA






A conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática do bem. Mas como expressar a compaixão, sem dinheiro? Por que meios incentivar a beneficência, sem recursos monetários?

Com essas interrogativas, a maioria inclinava-se a admitir que somente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre interferiu, opinando, bondoso:

- Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes. 


Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.


Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor. Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra.

Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com pessoas interessadas na maledicência, retraía-se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente.


Se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual.



A calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranquilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa.


Se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.



Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece. 


Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar um cobertor aos irmãos necessitados. A morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado. 

Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.



Fixou Jesus o olhar percuciente e calmo nos aprendizes, e concluiu, em tom amigo:

- Distribuamos o pão e a coberta, acendamos luz para a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.


(Do livro “Jesus no Lar”, 
Chico Xavier / Emmanuel)



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